segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Elogio da Razão - Homenagem UPB

Há pessoas que vivem apenas das ideias das suas cabeças. Atravessam o mundo por elas. Resistem a todos os nãos. Mais cedo ou mais tarde brilham. Saber sofrer é saber vencer.

A aventura começa pela manhã, não muito cedo, mas de forma a cumprirmos os nossos objectivos antes de anoitecer. De mochila às costas lançamos as nossas botas ao caminho, vamo-nos seguindo uns aos outros procurando o trilho assinalado pelas mariolas ou abrindo novos caminhos que umas vezes nos levam ao nosso destino e outras não nos levam a lado nenhum.
Ora perdidos por entre a vegetação ora trepando rochedos, vamos descobrindo a serra, biqueirando pedras soltas que sorrateiramente nos aguardam no caminho, num esforço vão de nos vedarem a passagem. Algumas silvas escondidas entre a urze tentam agarrar-nos as pernas, mas não vamos deixar que nos atrasem a jornada, até porque o dia avança com passos mais rápidos que os nossos.
Um pequeno ribeiro marca o ponto mais fundo do vale. Serpenteando por entre as pedras vai formando lagoas transparentes onde o terreno oferece resistência á sua passagem.
Contrariando o percurso do ribeiro, vamos subindo a serra, os garranos e as vacas que por ali pastam param a sua actividade e seguem-nos curiosamente com o seu olhar. Até uma pequena aranha vermelha que montou a sua armadilha junto ao chão estranha estes medonhos visitantes. Mas passemos alguns metros ao lado para não a perturbar, nem afugentar as suas possíveis presas. Retomado o caminho vamos respirando os cheiros da natureza, ali ao lado, um arbusto de azevinho tenta chamar-nos a atenção com os seus frutos vermelhos. Paramos para apreciar a paisagem e aproveitar para descansar um pouco já que as pernas vão acusando algum cansaço. Olhamos para cima e ganhamos ânimo pois o topo da serra é já ali. Inspiramos fundo, tão fundo quanto nos é possível, e continuamos a nossa escalada. Só que chegado ao ponto que julgávamos ser o topo, surge mais outra subida e finda esta, mais outra e outra, que parecem nunca ter mais fim.
Depois de um derradeiro esforço chegamos ao cume da serra. Extasiados pela paisagem que nos surge pela frente ficamos imóveis, instala-se o silêncio por breves momentos, contemplando o vale que a força da natureza construiu. As pernas param de reclamar pelo cansaço, as bolhas nos pés sabem-nos a troféus. Uma leve neblina esbarra-se nos nossos rostos transpirados provocando suaves arrepios como se um beijo da natureza se trata-se.
Aqui em cima o tempo pára, não se medem dias ou horas, apenas se contam estações. Aqui não existem problemas nem stress, não temos nomes e de nada valem as riquezas de barões e sultões. Aqui, sentimo-nos os senhores do mundo, temos o mundo debaixo dos nossos pés. Mas perante a grandeza desta natureza, somos tão importantes como o mais simples nada. Mas, é aqui que me sinto bem e quero cá voltar.
Lá no alto, o sol vai-nos avisando que está na hora de regressar. Começamos a descer a serra, com a alma mais leve, mas com os cuidados necessários para não deixarmos marcas da nossa passagem.
No regresso, cambaleantes mas com sorrisos na fronte, vamos planeando a próxima aventura, que se espera nos leve mais longe e mais alto, ou pelo menos por novos caminhos. Como se nos alimentássemos da vontade de ultrapassar os nossos limites.
Agora já vivemos um dia por semana.
Resta-nos aprender a viver os restantes.

Texto e imagem extraídos de: http://elogiodarazao.blogs.sapo.pt/ publicado por Paulo Silva

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