domingo, 27 de dezembro de 2009

Trilho das Sombras Geladas

Sábado, 26 de Dezembro de 2009, 7h28m e eis que inicio mais uma aventura gelada, desta vez o destino era a Serra do Xurez, na Galiza, mais concretamente o Trilho das Sombras.
O percurso iniciou-se junto à piscina de águas quentes em Rio Caldo - Lóbios, e aqui fomos confrontados com o primeiro grande desafio do dia: escolher entre montar as máquinas ou ir a banhos… mas como o pelotão estava motivado para queimar as calorias ingeridas no Natal, optámos em unanimidade pela primeira opção!
Passados algumas centenas de metros fomos brindados com algumas ruínas romanas, provavelmente de antigas termas romanas, já que estávamos a trilhar a Geira Romana, VIA XVIII (ou Via Nova), antiga ligação desde Bracara Augusta até Asturica, sendo esta a Via romana mais importante do noroeste de Portugal, pois foi uma estrada militar usada pelas Legiões romanas, presumivelmente construída no ultimo terço do séc. I d.C..
O início deste percurso foi verdadeiramente fantástico, digno de ser apreciado, e este foi o nosso segundo desafio, mais uma vez seguir em frente e não ficar ali parado a apreciar os antigos carvalhos e as suas folhas caducas caídas sobre todo o chão, fazendo lembrar wallpaper… há visões e momentos assim, únicos!
Lá seguiu sempre a subir a legião rumo às antigas Minas das Sombras, desfrutando das paisagens fabulosas sobre o Gerês – Xurês e sobre o Pico da Nevosa (ponto mais alto do Norte de Portugal), todo pintado de branco!
Após os 1178 metros de ascensão acumulada até Curral do Mouro, eis que iniciámos a nossa descida gelada e vertiginosa até Vilaméa, onde agora sim, nos esperavam as quentes águas da nascente, que relaxaram todas as mazelas deste extraordinário percurso.
Neste dia tive como companhia o Mário, o Daniel e Pinhel…
Aproveito para deixar duas notas gastronómicas: nota positiva para o Mário, pois a dieta de espinafres continua a fazer efeito, nota negativa para o Pinhel, pois andou a comer rabanadas confeccionadas com muito pouco óleo, originando um empeno nas pernas devido à falta de lubrificação!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

domingo, 20 de dezembro de 2009

DESAFIOS 2010

É verdade, o ano de 2009 está quase a acabar, é quase tempo para virar mais uma página do nosso livro de aventuras…
Olhando para trás tenho cada vez mais vontade de planear este próximo ano que, espero eu, seja repleto de bons e inesquecíveis percursos naturais.
Alguns dos objectivos para 2010 são:



Caminho Português de Santiago - desde Vilarinho até Santiago de Compostela
Travessia de Portugal – realização de três etapas desta mítica travessia do nosso país: Etapa 1 – Bragança - Sendim – 77km; Etapa 2 – Sendim – Freixo de Espada à Cinta – 67km; Etapa 3 – Freixo de Espada à Cinta – Almeida - 75km
Georaid Lousã – percurso do segundo dia do Georaid 2009 – 67km

Parque Natural da Sanábria
Parque Natural da Peneda Gerês

sábado, 19 de dezembro de 2009

TRILHO DAS CEBOLAS ESCONDIDAS E DOS ROJÕES PERDIDOS

Sábado, 19 de Dezembro de 2009, 7h03m e paira um silêncio sepulcral no ar… aos poucos começo a esticar os meus 206 ossos e os cerca de 650 músculos, pois o número exacto é difícil de ser determinado!
Bom, após o esticanço matinal, eis que está na hora de dar corda aos sapatos… melhor dizendo… apartar os velcros das botas e correr para os trilhos!
O destino era realizar um percurso na zona da Maia e Trofa, em pleno quintal do Mário, mais concretamente o “Trilho dos Rojões com Cebola”, título original do track tirado da net, mas que após alguma investigação e exploração, se provou estar inadaptado, passo a explicar…
Durante todo o percurso, as cebolas ninguém as viu, no entanto elas estavam lá…?! A esta hora, os participantes neste track estão a dar a volta à cabeça e tentar identificar onde é que estavam as cebolas? Pois bem, devido ao frio do início do percurso, todos os participantes choravam com o frio que se fazia sentir e, claro está, com o gás volátil chamado sin-propanetial-S-óxido, resultado do corte efectuado nas células das cebolas!!!
O gás dissipa-se pelo ar e eventualmente chega aos olhos, onde vai reagir com a água para formar uma solução muito fraca de ácido sulfúrico, que irrita as terminações nervosas do olho, fazendo-os arder. Em resposta a esta irritação, as glândulas lacrimais entram em acção para diluir e lavar a irritação…
Quanto aos rojões, o Mário bem os procurou, mas nada, nem sinal deles… por algum momento ainda tive esperança em passar próximo de uma qualquer cozinha e inalar o cheirinho a rojões mas nada… definitivamente os rojões encontravam-se perdidos!
Quanto aos trilhos, mais uma vez pudemos desfrutar de fantásticas paisagens e vegetações luxuriantes, algumas delas ainda bem congeladas, não estivesse ainda apenas 1ºC de temperatura! Pena é que existam tantos depósitos de resíduos industriais e domésticos na periferia dos trilhos, fruto de muita inconsciência e desleixo!
Neste dia estive acompanhado pelo Pinhel e pelo Mário que, durante todo o percurso tiveram uma curiosa divergência sobre o número de quilómetros já realizados… enfim, a tecnologia nem sempre é simples!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Pelas margens do Rio Lima

Domingo, 13 de Dezembro de 2009, 7h17m e acordo radiante de felicidade… nem queria acreditar que estava a um passo de regressar aos trilhos! Após uma paragem forçada de algumas semanas, e ainda com uma incapacidade de 2,74%, resolvi desafiar o Mário, Pinhel e Daniel para mais um percurso, e que percurso…!
O nosso objectivo era, aproveitando um track de GPS sacado da net, ir desde Viana do Castelo até Ponte de Lima, sempre a rolar pelas margens do Rio Lima, percurso com cerca de 58km de distância que, apesar de fácil, deu para aquecer bem os motores já resfriados de tantos dias de paragem…
Ainda mal tínhamos encaixado as botas nos pedais, já estávamos com um problema em mãos… o início do percurso tinha tanta lama que chegava quase aos discos das rodas! Bom, claro está que, comecei logo desde cedo a ouvir reclamações dos meus colegas que, bem lá no fundo estavam era todos contentes pois, desde putos que não chafurdavam assim na lama, ainda por cima sem levaram uma palmada no rabo por tal comportamento!
Aos poucos as nossas biclas foram ficando todas castanhas e os discos começaram a chiar de descontentamento… mas ainda bem que a nossa persistência e motivação nos fez progredir, pois felizmente o estado da restante parte do percurso, estava bem melhor!!!
Tivémos então oportunidade de passar na paisagem protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos, reserva que se encontra classificada como paisagem protegida, fazendo parte da Reserva Ecológica Nacional.
A Zona Húmida de Bertiandos e S. Pedro de Arcos, além de desempenhar as funções típicas das zonas húmidas, como a preservação da biodiversidade, a regulação do balanço hídrico, a retenção das inundações e a melhoria da qualidade da água, entre outras, apresenta ainda um importante valor paisagístico devido à existência de bosquetes florestais de vegetação natural, pastagens, áreas agrícolas e terrenos alagadiços, formando um conjunto de rara beleza.
Actualmente, podem ser observados o lagarto-de-água, o sapo-parteiro, a cegonha-branca,a cotovia pequena, o falcão-peregrino, a felosa-do-mato, o guarda-rios e muitas s outras espécies… De referir, ainda, a presença de outras espécies animais que exigem uma protecção rigorosa, de entre estas destacam-se a lontra, a toupeira-de-água, o lagarto-de-água, o tritão-namorado e a rela.
Chegados a Ponte de Lima tivemos a oportunidade de passar pela ponte lançada sobre rio, formada por dois troços distintos, um romano e outro medieval. O troço medieval assenta sobre 15 arcos e o troço romano, muito simples, assente sobre 7 arcos.
Após uma breve paragem, lá iniciámos o percurso de regresso pela outra margem do rio, pois o nosso tempo para esta aventura estava a ficar esgotado, e tínhamos que recuperar algum atraso verificado até então… não foi nada fácil deixar de parar um pouco, para deslumbrar a paisagem do rio que sempre nos acompanhou neste dia!
Em suma, este foi um dia repleto de bons momentos, daqueles que certamente irão ficar gravados na memória dos participantes, pois as deslumbrantes paisagens bucólicas tinham capacidade de gravação na nossa memória. Após tantos fins-de-semana de mau tempo estava um belo dia de sol para vaguear pelas margens do Rio Lima…

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dia Internacional das Montanhas

As montanhas são ecossistemas terrestres com paisagens sublimes, e com uma grande biodiversidade de fauna, flora e de uma considerável singularidade cultural. Contudo, a sua destruição e degradação paisagística tem vindo a aumentar consideravelmente devido à pressão humana directa e indirecta através do aquecimento global e alterações climáticas associadas.
As montanhas desempenham uma importante função na vida de todos nós, por isso é necessário preservar e gerir da melhor forma o espaço da nossa montanha.
Conto com o apoio de todos no apoio a esta causa...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

António Malvar

Em todas as modalidades desportivas, existem personagens que pela sua postura e dedicação se tornar ícones e míticos, daí resolver realizar esta dedicatória a uma dos nomes sonantes do BTT em Portugal, a António Malvar.
Já tive o privilégio de conhecer pessoalmente o Antonio Malvar, pois o meu Garmin Oregon foi adquirido na sua loja e pude aprender algumas dicas sobre GPS. Mas como este mundo é muito pequeno mesmo, dei-me conta à bem pouco tempo que estou actualmente a trabalhar com a sua filha… engraçado, as voltas que este mundo dá!


Os dois textos que se seguem, são da autoria do António Malvar, uma autêntica pérola do BTT!!!


10/09/1996 - Felicidade é....


Os ciclistas de montanha, ou melhor, os utilizadores de Bicicletas de Montanha neste país, são uma minoria numa sociedade de costas viradas para os interesses óbvios da expansão deste movimento e que teimosamente ignora ou evita reconhecer as vantagens sociais que advêm duma maior profusão desta modalidade desportiva e ou forma de ocupação dos tempos livres.Mas não é minha pretensão hoje e aqui aprofundar o lamento procurando as razões e apontar as culpas para este estado das coisas, até porque culpas temos nós também e as razões são bem mais ancestrais do que o que conseguimos apurar. É sim o meu intento analisar esta minoria que cresce todos os dias e que vai abraçando o movimento das formas mais variadas, algumas até peculiares. A bicicleta é o elemento comum de entre todos mas a forma de estar é tão diversificada que chego à conclusão que para além da bicicleta o único que é ainda igual em todos é o “ser feliz”.

- Felicidade para uns é poder pegar na bicicleta e desbravar esses trilhos e caminhos do Portugal esquecido, sozinhos ou na companhia de amigos, contactando as simpáticas e hospitaleiras gentes dessas nossas aldeias mais remotas e ignoradas, num fim de semana ou ao longo das férias, em total esquecimento e numa profunda paz interior.

- Felicidade para uns é poder participar em competições, para conquistar um lugar entre os primeiros, daí: fama, reconhecimento, taças medalhas e dinheiro.

- Felicidade para uns é participar nos passeios que se organizam aos fins de semana em diversos locais do país e assim fazer novas amizades, conhecer outros espaços, outros caminhos, ou simplesmente estar entre os que gostam de andar de bicicleta.

- Felicidade para uns é entrar em competições muito simplesmente para participar sem pretensões a pódios, estar no evento, ao lado dos campeões à partida, competindo consigo próprio, fazer-se chegar ao fim, entrar na mesma volta do primeiro ou ficar à frente do vizinho ou do amigo.

- Felicidade para uns é treinar sem outro objectivo que não seja o de manter-se em forma, pegar na bicicleta e fazer o “ritual” do treino: 1 hora hoje, 2 horas amanhã, todas as manhãs de domingo, etc.

- Felicidade para uns é pegar numas cartas militares e com a bicicleta tentar chegar e passar por onde se planeia sem se perderem, saudavelmente obstinados em se localizarem no mapa a todo o momento e assim passarem horas e dias complemente absortos.

- Felicidade para uns é enfiarem-se por esses caminhos desconhecidos e reconhecê-los para futuramente guiar os amigos e os amigos dos amigos por essas paisagens por eles antes descobertas e preparar guias e roteiros desses trilhos para que muitos outros venham por si só a conhecer esses maravilhosos recantos.

- Felicidade para uns é pegar na bicicleta e com ela aprender e fazer as maiores acrobacias: cavalos, éguas, “bunny hops”, subir pedras, descer escadas, subir escadas, saltos com “tables”, etc.

- Felicidade para uns é domar a bicicleta naquelas descidas técnicas cheias de pedras quase verticais sem pôr o pé no chão, complemente embriagados de adrenalina.

- Felicidade para uns é subir de bicicleta sem desmontar aquela “parede” de piso escorregadio que durante tanto tempo parecia impossível de se fazer, ou fazê-la à frente dos outros do grupo com os pulmões a queimarem e o coração a explodir dentro do peito, mas saboreando o êxtase do sucesso.

- Felicidade para uns é rolar passeando calmamente de bicicleta ao longo das estradas marginais ou das estradas florestais e beber do prazer da brisa da manhã de Domingo na cara, exibindo ou não aquela nova colorida blusa de lycra, ou aquele novo capacete com pala.

- Felicidade para uns é levar toda a família a andar de bicicleta e com eles descobrir uma nova vida em convívio, uma forma mais nobre de ocupar os tempos livres em alternativa à volta saloia de carro, aos centros comerciais, às praias apinhadas de gente e às frustrantes tardes televisivas.

- Felicidade para uns é Ter uma bicicleta de montanha e com isso poder ser reconhecido como um aventureiro, um radical do desporto, um atleta ou como tendo uma forma física invejável.

- Felicidade para uns é comprar a bicicleta mais exótica, construir a bicicleta mais leve, montar a bicicleta mais “high tech” e tê-la imaculada sob uma redoma na sala de estar lá de casa, contemplando-a dias a fio, devorando todas as revistas da especialidade na busca da última criação tecnológica do mais avançado e futurista possível, para montar na sua bem amada. Andar nela não é o mais importante até porque se vai sujar, só se estiver seco, for em bom piso e houver muita gente para a admirá-la.

- Felicidade para uns é pedalar nos grandes charcos e lamaçais destes invernos rigorosos, enterrando-se em lama até à alma num total desprezo pela bicicleta, borrifando-se para centros de pedaleira, cubos, correntes e tanta outra tralha que parece incomodar os outros, e chegar a casa e esquecer-se da bicicleta num qualquer canto da garagem, varanda ou arrecadação.

- Felicidade para uns é poder transportar-se de bicicleta para o trabalho e com uma cara de satisfação ultrapassar os que escolheram ir de carro e que num total desespero esperam impacientes que aquela fila de carros parados na sua frente se mexa, acumulando stress e levando o dobro do tempo a lá chegar.

- Felicidade para uns é saber tudo o que há para saber sobre bicicletas e passar tardes a discutir sobre qual a melhor suspensão, o melhor material de quadro, o futuro das bicicletas de suspensão total ou a actual forma do Tomac, da doença da Furtado e da loucura do Palmer.

- Felicidade para uns é ter uma bicicleta dita barata e levá-la a fazer o que os que as têm ditas caras e sofisticadas não conseguem, e poderem provar que o que verdadeiramente interessa é ter pulmão e pernas.

- Felicidade para uns é ter uma bicicleta dita cara mas que não pareça, sem peças coloridas ou exuberantes mas poder secretamente confidencial com alguns (não assim tão poucos) que aquela bicicleta está avaliada em centenas ou milhares, e daí tirar um imenso gozo.

- Felicidades para uns é viajar de bicicleta indiferentemente de ser em estrada ou em terra em total auto-suficiência durante semanas expedicionando vários países ou regiões engrandecendo o seu conhecimento de outros horizontes, de outros povos e de si próprio.

Felicidade para outros é poder escrever sobre assuntos relacionados com a bicicleta e fazer testes e análises de produtos, de competições e passeios, e recrear em todos uma vontade férrea de pegar na bicicleta e com ela gozar uma ou diversas daquelas formas de felicidade.

Felicidade para mim, e quem sabe, não só para mim, são todas aquelas formas de ser feliz com a bicicleta, um pouco de todas ou um muito de todas.

Neste mundo tão variado da BTT há lugar para todos, sendo cada um feliz à sua maneira, e é errado não respeitar todas aquelas formas de estar porque todas elas são um espelho da felicidade interior de cada um. É errado escarnecer desta ou daquela postura pois isso é ofensivo e não cabe a ninguém julgar sobre qual deve ser o padrão de felicidade que se deva ter com a nossa bicicleta.

Pena é, reconhecer que esta nossa felicidade nem sempre é bem recebida e parece até por vezes ofensiva para quem nas estradas nos dificulta a circulação e não nos respeita, para quem no planeamento urbanístico das vilas e cidades nos esquece, para quem nos dificulta o acesso aos parques naturais sem procurar antes criar condições e formas de coexistência de mútuo interesse, nos rejeita quer directa quer indirectamente em locais públicos só porque nos vestimos e calçamos de forma diferente, que não nos deixa estacionar a bicicleta à porta do café ou restaurante, nos ignora nos meios de comunicação social não fazendo qualquer alusão às nossas actividades, autoridades que querem regulamentar o transporte das nossas bicicletas no nosso carro, Federação de Ciclismo retrograda que não só não protege os nossos interesses como até parece promover esta imerecida marginalização, etc.

Mas afinal quem pode ainda ignorar que não será o veículo de duas rodas sem motor o meio de locomoção por excelência do futuro das nossas cidades e grandes vilas.Animem-se pois, estamos aqui para ficar e sejam felizes, cada um à sua maneira, claro está.


António Malvar




12/08/1997 - Neste nosso mundo do BTT



Neste nosso mundo do BTT, existem muitas formas de estar, ou seja, muitas maneiras de se encontrar felicidade. No entanto, o sentimento de que há algo de comum em todos os praticantes e que vai fomentando esta enorme paixão que muitos exibem pelo tema, nunca deixou de me aguçar a curiosidade e de me fazer observar mais analiticamente aqueles amantes do BTT com quem tenho oportunidade de acamaradar nas passeatas de fim de semana pelos mais belos trilhos deste nosso admirável país fora-de-estrada.

Em 1987 tínhamos uma empresa de Desporto Aventura que entre outras coisas fazia passeios de jipe para turistas na Serra da Arrábida e aos fins de semana competia-me a mim a tarefa de deambular com um UMM carregado de ´´aventureiros´´ pelos caminhos sulcados de valas atravessando ribeiras, subindo e descendo trilhos elameados na Arrábida que todos tão bem conhecemos.

Ora, foi aí que tomei o primeiro contacto com a BTT. Quase sempre na zona da Comenda, fizesse sol ou chuva, encontrava-me com um punhado de (seriam ciclistas?) tipos vestidos com lycras muito coloridas, com um pedaço de esferovite atada à cabeça e montados numas estranhas bicicletas com umas rodas grossíssimas.

Ao cruzar-me com eles acenavam-me um adeus com um sorriso na cara toda salpicada de lama e durante momentos ficava a pensar como poderiam aquelas criaturas estar tão felizes apesar de completamente molhados e sujos de lama até à alma.

Estas imagens ficaram-me permanentemente gravadas na memória e foi sem surpresas que três anos depois dei por mim a negociar a minha primeira bicicleta de montanha e ao montar nela pela primeira vez (na Arrábida, claro!) percebi como era maravilhoso desbravar aqueles trilhos por entre vegetação luxuriante com a brisa da manhã na cara, rolando em silêncio, sem o barulho dos motores à minha volta.

Confesso que desde então fiquei apanhado pela BTT, deixei os jipes e dediquei-me de corpo e alma. Tinha descoberto uma nova paixão e dela contagiei todos os meus amigos.

Mas o que faz verdadeiramente um empresário, quadro superior duma empresa, professor, advogado, médico, levantar-se de madrugada ao Domingo, vestir umas roupas justas enfiar um capacete na cabeça e montado na sua BTT passar o resto do dia a chafurdar em lama, ou esvair-se de suor serra acima, ou ainda fazer apostas com os amigos em como é hoje que se vai mandar na tal descida íngreme ?

O que faz verdadeiramente famílias inteiras pegar no carro numa sexta-feira à noite, montar bicicletas no tejadilho e fazer centenas de kms par um qualquer lugar remoto e passar o fim-de-semana a deambular pelos campos, perdidos o tempo e no espaço, atrás de uma centena de outros que se juntaram no mesmo local para um passeio BTT por “não sei onde”, regressando exaustos com as bicicletas imundas ?

Muito dizem-me que é para se manterem em forma, mas quando os vejo frequentar ginásios, piscinas e fazerem o seu jogging a meio da semana, sinto que à uma outra força estranha que os faz sonhar com o fim-de-semana para pegarem nas bicicletas.

Muitos dizem-me que é pela camaradagem, mas quando os encontro na Marginal bem cedo a treinar sózinhos para que no próximo fim-de-semana subam ao Monge e cheguem primeiro que os colegas, sinto que há algo mais que os impulsiona para cima da bicicleta.

Muitos outros dizem-me que é pelas paisagens, pelo desfrutar da Natureza, para conhecer outros locais, mas quando os vejo guinchando de alegria a saltar por cima de valas ou raízes, descendo vertiginosamente pelos caminhos pedregosos, sinto que há uma outra razão para os levar a não perder um passeio de fim-de-semana ou a dar uma volta com os amigos ao fim da tarde.

Outros ainda dizem-me que o fazem pela competição, correndo o país de lés a lés, treinando afincadamente todos os dias para puderem aspirar àquele lugar no pódio, mas quando os vejo a ´´sacarem cavalo´´ e ´´égua´´ ´´saltos em table´´ ´´bunny hops´´ e a fazerem outros truques enquanto aquecem para a prova, sinto que há dentro deles algo mais que os leva a montar naquelas super BTT´s.

Há os que me dizem que é por os outros os desafiaram e que foi um pretexto para se livrarem lá de casa ao fim do dia ou ao fim de semana, mas quando os vejo a escolherem as poças mais fundas do caminho para as atravessar a toda a velocidade com um ar de gozo e prazer sem fim, sinto que há uma outra verdade escondida que os leva a sujarem todos daquela maneira.

Também há os que me dizem que não é por que seja moda, mas sim porque o médico os aconselhou a fazer qualquer coisa, a mexerem-se, a fazer desporto, mas quando os vejo a comprar um capacete a condizer com a cor da bicicleta, e apresentarem-se aos amigos ao fim-de-semana equipados a rigor com um sorrisinho de prazer nos lábios, sinto que pode ter sido o médico, mas há algo mais que os leva a fazer BTT.

E há ainda muitos (mais do que se possa pensar) que me dizem que o fazem porque sempre fizeram desporto, mas que começaram com aquela dor nas costas, foram ao médico e este lhes disse que tinham de parar de andar de bicicleta por causa daquele “princípio” de hérnia discal a menos que comprassem uma suspensão total.

Mas quando os vejo exibirem o ´´último grito da moda´´ em tecnologia de BTT´s, e passearem-se secretamente de loja em loja na busca da última invenção fruto duma qualquer chafarica americana que produz acessórios de ´´indiscutível´´ qualidade, para pendurarem na sua BTT, sinto que algo mais os leva a perderem o seu tempo devorando as revistas e as lojas da especialidade.

Todos me dizem que o que gostam é de andar de bicicleta, mas quando os me acompanham nos passeios que fazemos e os vejo a sprintar à minha frente, saltar as pedras no meio do caminho, subir às bermas ´´rélévés´´ dos caminhos, descer escadas, lançarem-se a todo o gás pelas descidas rápidas, puxarem o rabo todo para trás nas descidas mais arrojadas, puxar a bicicleta para cima em qualquer pequena lomba, tirar o pé de apoio, ´´à campeão´´, em todas as curvas.

Quando me pedem conselhos sobre suspensões de dupla coroa, quadros em titânio, suspensões totais, rodas em carbono, travões de disco, oito ou nove velocidades, sobre aquele exótico desviador que viram na MBA ou na NET ou aquela barra energética do ´´outro mundo´´ que substitui todas as refeições até ao final da semana.

Quando me procuram para que lhes ensine a saltar para subir passeios, usar pedais de encaixe, descer pequenos degraus ou para que serve e como se usa um monitor de frequência cardíaca, sinto que há algo mais por detrás de toda aquela vontade de fazer BTT, há uma força renovada que os atrai e me atrai à BTT, há em nós um frenesim imparável para montar a bicicleta, há em todos nós uma criança que nunca deixámos de ser e ao voltarmos a senti-la redescobrimos que ainda não vivemos toda a nossa infância e como é bom sentir aqueles pequenos prazeres.

É a criança que há em nós que se solta e ao recreá-la sentimo-nos bem e deixamos de lado todas os pergaminhos e mais não somos que um grupo de crianças divertidas.Na procura dos porquês mais metafísicos fui ignorando o que é tão simples…

Todos fazemos BTT porque isso liberta a criança que há em nós.


António Malvar

domingo, 6 de dezembro de 2009

Raposa

A raposa (vulpes vulpes) é o carnívoro selvagem e acima de tudo um predador muito astuto. Tem um focinho esguio, rematado por umas orelhas longas e pontiagudas, e uma cauda espessa e vistosa com cerca de 50 cm de comprimento, a sua pelagem é castanho-avermelhada e as patas estão dotadas de garras não retrácteis.
A raposa é um animal de hábitos crepusculares e nocturnos, pelo que é relativamente fácil encontrá-la na beira das estradas ao anoitecer, embora, por ser muito fugidia, só se veja normalmente a sua característica cauda desaparecendo por entre a vegetação.
Foi o que aconteceu ainda ontem quando viajava para Gouveia, tive o privilégio de observar um belo exemplar com um rabo bastante longo, a fugir por entre um muro de pedras e a vegetação, no lusco-fusco do final do dia!
São animais muito resistentes e com grande capacidade de adaptação. Como não são territoriais, podem percorrer e adaptar-se a novos territórios, desde que estes tenham comida em abundância.
Deixo agora um pequeno vídeo, filmado por mim, das minhas raposas de estimação no Curral do Negro… espero que gostem! Trata-se da raposa “Fifi” e a sua irmã, que vinham todos os dias alimentar-se à porta de minha casa…



terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Carqueja

A Carqueja, também conhecida como carqueija, carqueijinha ou flor-de-carqueija é uma planta lenhosa, arborescente, erecta, com 30 a 70 cm de altura e com ramos alados (asas pouco desenvolvidas) e as suas folhas são reduzidas a filódeos coriáceos, frequentemente bi-a tridentados. Tem floração de Março a Junho sendo facilmente encontrada na zona norte e centro de Portugal em charnecas, matos, pinhais e montados.
Esta planta ajuda na batalha contra a balança, pois tem efeitos diuréticos e limpa as impurezas do organismo, através das suas propriedades laxantes. É também indicada para a gripe, doenças do fígado, estômago e intestinos. A carqueja contém o mineral cromo (o cromo em união com outros aminoácidos do complexo B actua no controle de açúcar do sangue), bom para diabetes.
É também bastante utilizada para fins domésticos como carburante para acender lareiras. Antigamente era também utilizada nas matanças dos porcos para chamuscar o pêlo do animal, prática esta que hoje em dia, está praticamente extinta.
Fica então uma sugestão para um dia de feriado chuvoso: ferver um litro de água com vinte gramas de carqueja por quinze a trinta minutos. Depois delicie-se com umas chávenas de chá, servidas no seu sofá, embrulhado em mantas de lã, ao fundo uma lareira a crepitar e, de preferência, com uma óptima companhia!

domingo, 29 de novembro de 2009

Baú de Recordações - Nave da Mestra

Foi em 9 de Setembro de 2004 , acompanhado pelo Sr. Cunha, que fui explorar o planalto do maciço central da Serra da Estrela, desde as Penhas Douradas até ao Cume através do trajecto com base na variante T11 da GR T1 da Estrela.
Rota extremamente interessante, marcada por antigas mariolas e decorrendo sempre acima dos 1300 m de altitude, permitiu-nos observar várias espécies de fauna e flora, por entre paisagens de rara beleza.
O ponto alto deste percurso foi sem dúvida a Nave da Mestra... cuja peculiar a estreita fenda nos leva directamente ao seu cervunal e a uma curiosíssima construção, chamada Barca Herminius, construída há cerca de 100 anos por um juíz excêntrico apaixonado pela Serra, que aproveitando a disposição megalítica de uns penedos imensos de granito ali construiu a sua habitação para os tempos de férias.
A nave da Mestra é sem dúvida um local paradisíaco, no qual reabastecemos energias junto às margens do seu riacho.
Após ser atingido o Cume a 1111m, o caminho de regresso foi feito por um trilho passando pelos Charcos, Lapão e Vale do Rossim, onde iria terminar, e bem, esta caminhada.