sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Miguel Torga

Margot Dias, Miguel Torga, André Rocha, Jorge Dias e José Fecha fotografados nos montes de Vilarinho

Este post é uma pequena homenagem a um grande homem, a um dos escritores que mais escreveu e percorreu a Serra do Gerês, Miguel Torga, cujo nome de baptismo era Adolfo Correia da Rocha, nascido em 12 de Agosto de 1907. Filho de gente do campo, nas suas palavras não nunca se deligou das origens, da família, do meio rural e da natureza que o circundava… deixo alguns textos referentes à Serra Amarela e ao mistério das Casarotas!

“A Serra Amarela é um dos ermos mais perfeitos de Portugal. Situada entre o Gerês e o Lindoso, as suas dobras são largas, fundas e solenes. Sem capelas e sem romarias, cruzam-na os lobos, os javalis e as corças. A praga dos pinheiros oficiais ainda lá não chegou. De maneira que mora nela o sopro claro das livres asas e o riso aberto dos grandes sóis. Não há estradas, senão as da raposa matreira, nem pousadas, senão as cabanas dos pastores. É Portugal nuclear, a Ibéria na sua pureza essencial e granítica. Um pé de azevinho aqui, urzes milenárias acolá, um carvalho numa garganta, nenhum coração de entre o Douro e Minho pode deixar de se sentir aquecido e reconfortado em semelhante chão.”

“Todo o dia pela Serra Amarela, a percorrer vezeiras, a visitar fojos de lobos e a quebrar a cabeça no enigma de quinze ou vinte casarotas perdidas numa chapada, que ou são túmulos de uma necrópele celta, ou habitações pastoris de verão, ou acampamento de tropas romanas, ou armadilhas que o diabo pôs ali para tentação de almas ignorantes. Não sei se alguém de saber já por lá passou e viu aquilo. Uma inscrição em caracteres estranho vai-se apagando no granito, os pastores vão atirando ao chão as lages que cobrem os dolmens ou as construções, e daqui a algum tempo não restará de todo o mistério nenhum sinal. Mas talvez seja melhor assim. Os mistérios são o alimento natural do tempo. E quando os anos os digerem, fica tudo em paz.”

Miguel Torga

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